A deficiência motora constitui um tipo de problemática que apresenta um permanente caráter de disfunção, ao nível da motricidade, tanto global como específica. A este aspeto estão, por vezes, associadas outras comorbidades tais como o défice cognitivo, graves problemáticas na produção da linguagem verbal oral, dificuldades de aprendizagem escolar ou outras.
A inclusão social de quadros de deficiência motora grave representa o grande objetivo a atingir representando árduo investimento junto de instituições oficiais e outras, bem assim como o fomento de iniciativas privadas onde a atividade laboral com patologias graves se constitui como uma alternativa viável.
Contudo, alguns quadros onde a problemática motora está de forma mais ou menos expressa, esta podem ser largamente atenuada quando a intervenção atempada e dirigida às reais possibilidades da criança, ocorre de forma precoce e persistente. Esta forma de atendimento permite ajustes no comportamento neuromotor e outros, em crianças que se encontram em processos de aprendizagem pluridimensional, uma vez que a plasticidade cerebral correspondente aos primeiros anos de vida, muito joga a seu favor.
As dificuldades motoras podem, ainda, ser perspetivadas de acordo com
(1) o nível de lesão (ligeira, moderada, grave);
(2) com as distintas e possíveis etiologias (disfunções cromossómicas, alterações durante a
gestação, período pré ou pós natal);
(3) com o tipo de disfunção manifesta na mobilidade corporal global ou específica
(4) com o deficiente uso dos membros superiores, inferiores, controle postural;
(5) com a possibilidade de uso ou não da motricidade oral que materializa os distintos padrões levados a cabo durante a atividade da fala
(6) com o possível uso de sistemas alternativos à produção verbal oral.
Na base de possíveis problemáticas, enquadráveis na global categoria de perturbações motoras se encontram alterações de base neuroanatómica e fisiológica as quais podem revelar-se tendo em conta distintos padrões etiológicos tais como:
– a distribuição cromossómica na formação inicial do feto ou outras anomalias, de tipo congénito, as quais traduzem distintos quadros de alteração da motricidade, linguagem e cognição.
– a lesão do cérebro em áreas e funções delas emergentes as quais podem expressar-se sob forma de incoordenação motora que invalida a realização de padrões motores adequados à necessária funcionalidade e atividade neuropsicomotora que predispõe à comunicação em sentido lato e ao movimento básico, em sentido estrito, (caso da paralisia cerebral).
– a lesão cerebral resultante de traumatismos crâneo-encefálicos, com distintos níveis de gravidade no que à extensão e profundidade da lesão no território cerebral diz respeito, assim como as subsequentes sequelas neuromotoras, de comunicação e linguagem, cognitivas, comportamentais.
– as lesões cerebrais consideradas difusas ou ainda aquelas que são subsequentes a neoformações que configuram distintos tipos de adulteração nos padrões de desenvolvimento motor e outros.
– as perturbações motoras decorrentes da deficiente conexão entre o cérebro e a espinal medula (paraplegias, paraparésia com manifestas dificuldades de motricidade fina ou mobilidade) .
– a disfunção na comunicação entre espinal medula e o músculo (espinha bífida) que se repercute em distintos quadros de adulteração neurológica e subsequentes dificuldades de motricidade, aprendizagem , controle esfincteriano.
– as perturbações motoras decorrentes da degenerativa dinâmica intramuscular as quais criam situações gradualmente mais inibidoras de uma normal mobilidade, com suas decorrentes dificuldades na interação psicossocial, escolar, etc.
Todos os possíveis contextos atrás referidos requerem, por parte dos alunos, uma perceção mais aprofundada sobre as funções que, no corpo humano, se veiculam ao movimento, nomeadamente as múltiplas e complexas funções cerebrais que registam, processam e coordenam o movimento global e específico. A relação deste com a espinal medula e desta com o músculo constituem noções de anatomia básica oferecidas aos alunos para que estes sejam capazes de identificar e reconhecer possíveis causas orgânicas que estão na base de diversas disfunções motoras, assim como os distintos tipos de dificuldades, presentes neste tipo de perturbações neuromotoras que dificultam, em maior ou menor grau, a realização da motricidade básica e das inúmeras facetas da aprendizagem social e escolar.
A importância de uma abordagem centrada nos aspetos de uma maior e possível funcionalidade, potenciados pela reabilitação e levados a cabo por técnicos específicos (terapeuta da fala, terapia ocupacional, fisioterapia), é um vetor de conhecimento aqui considerado relevante para qualquer formação que vise um saber especializado em educação de alunos com défices motores, tal o caso de profissionais da educação os quais deverão representar agentes comprometidos com a continuidade dos procedimentos terapêuticos a fim de consolidar atitudes e comportamentos motores mais adequados e funcionais para a vida social e escolar do aluno com perturbações de tipo motor.
Técnicas de controle postural, controle da baba, incremento do uso de sistemas alternativos, seleção de materiais escolares mais funcionais para atividades escolares e de alimentação (para cada concreto contexto), representam um saber que qualquer docente poderá ter de enfrentar. Por tal motivo se justifica constituírem tais saberes específicos, objeto de aprendizagem nesta formação.
Uma abordagem aos aspetos de caráter psicopedagógico que interferem com a aprendizagem dos conteúdos académicos em geral e com a aprendizagem da linguagem escrita, em crianças com impossibilidade total ou parcial do uso da fala, constitui objetivo relevante no tipo de formação especializada que pretende conjugar a possibilidade com a maior funcionalidade e ambas dirigidas ao incremento e potenciação de aprendizagens académicas, bem estar social e realização pessoal do aluno portador de défices em seu desenvolvimento neuromotor.
Texto atualizado em: 17 de junho de 2022
Autoria: Rosa Maria Lima
Em Construção
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