A etiologia
A surdez é caraterizada, do ponto de vista médico-audiológico, de acordo com 3 aspetos: causa, tipo e grau. Quanto às causas pode ser: surdez hereditária ou genética; surdez congénita; surdez adquirida. A surdez hereditária (30 a 60% das deficiências auditivas) classifica-se em sindrómica e não sindrómica, sendo a primeira responsável por 30% dos casos infantis. Quanto à surdez congénita, os problemas podem ser de natureza viral, bacteriana e tóxica. Salienta-se a rubéola materna sobretudo nos 3 primeiros meses de gravidez; a toxoplasmose e Papeira; a meningite (responsável por cerca de 9% dos casos); os medicamentos ototóxicos. Relativamente à surdez adquirida a surdez pré-locutória (manifestada antes da aquisição da linguagem) terá consequências bem mais graves do que uma surdez pós-locutória. Podem ser causas de surdez adquirida: anóxia neonatal, icterícia neonatal, prematuridade e baixo peso à nascença, meningites, viroses (sarampo, papeira, rubéola), lesões metabólicas, encefalites, diabetes infantil, traumatismos (craniano e sonoro), uso de antibióticos e medicamentos ototóxicos. Quanto ao tipo de surdez pode-se considerar três situações: surdez de transmissão ou condução (lesão no ouvido externo ou no ouvido médio); surdez neurossensorial ou de perceção (lesão no ouvido interno ou nas vias e centros nervosos); surdez mista (lesão localizada no ouvido médio e interno, existindo afetação nos componentes de transmissão e perceção).
A terceira característica é o grau de surdez definido de acordo com a perda auditiva. Assim, podemos encontrar: deficiência auditiva ligeira (21dB-40dB), Deficiência auditiva moderada (41dB-70dB), Deficiência auditiva severa (71dB- 90 dB), Surdez profunda (91dB-119 dB), Cofose (120dB).
Conceito e definição
Do ponto de vista audiológico, por surdo é entendido o sujeito com uma surdez profunda de tipo neurossensorial que o impede de aceder à linguagem oral, pela audição. Por outro lado, usar-se-á “Surdo” quando a referência for especificamente ao Surdo profundo, no âmbito de um paradigma sócio-antropológico, que valoriza a pertença a uma comunidade linguístico-cultural própria, de cariz minoritário.
Consequências da surdez no desenvolvimento
Embora as principais consequências sejam no domínio da linguagem elas abrangem outras áreas. O Surdo ficará privado, em termos auditivos, de um conjunto de informações do quotidiano que invadem permanentemente o ouvinte sem que se lhe exija qualquer esforço deliberado. Este facto conduz à ausência de uma linguagem estruturada que dê sentido ao que se vê e que permita a evocação da imagem mesmo quando esta não está presente. A leitura labial foi bastante enfatizada pelas perspetivas oralistas como meio predominante na receção comunicacional. No entanto, existem várias circunstâncias que impedem a sua eficácia conduzindo a que só 25 a 30% da fala possa ser descodificada, exclusivamente, por este meio. Para superar alguns destes obstáculos aponta-se, frequentemente, como solução, o desenvolvimento da linguagem escrita. Segundo esta perspetiva, a introdução precoce da leitura ajudaria na aquisição da linguagem oral e possibilitaria um código comum entre Surdos e ouvintes. Contudo isto não se revela assim tão elementar, devido às dificuldades que o Surdo apresenta no processo de descodificação do material escrito. No caso das correntes bilinguistas, a leitura/escrita vai assumir um papel diferente, pois constituirá o acesso à segunda Língua, ou seja, à Língua da comunidade ouvinte maioritária tendo presente a defesa de que a sua primeira Língua seria a Língua Gestual. Em termos de produção oral, embora não faça sentido a designação “surdo-mudo”, o Surdo vai apresentar muitas lacunas e graves problemas o que implica enormes dificuldades para se fazer entender junto do ouvinte. Frequentemente os seus enunciados são pobres e limitados, restringindo-se a uma comunicação centrada nas necessidades imediatas mais elementares, de difícil descodificação fora do seu envolvimento direto e quotidiano. Neste contexto, a aquisição precoce da Língua Gestual pode desempenhar um papel fundamental, como parece revelar-se nos casos de Surdos filhos de pais Surdos. No entanto, a grande maioria das crianças surdas é filha de pais ouvintes o que comporta uma situação mais complexa, em termos de comunicação e de interação. Frequentemente há um quebrar de laços comunicacionais que se haviam estabelecido e essa dificuldade vai condicionar a relação interpessoal que fica restrita aos aspetos funcionais do dia-a-dia. Isso trará diversas consequências nomeadamente na consciência do seu papel no grupo familiar e social e no comportamento social na escola. Para que o surdo possa construir, de forma mais adequada, a sua identidade, enquanto pessoa Surda, é muito importante o contacto com pares Surdos e com Surdos adultos. Esta construção identitária faz-se, também, na medida em que o próprio e o seu envolvimento familiar, escolar e social entendem que o Surdo não é um ouvinte imperfeito, mas alguém com características linguísticas e culturais próprias. O paradigma sócio-antropológico da surdez, ao conceber uma identidade Surda, retira-a das conotações deficitárias. Assim, a construção faz-se pela positiva entendendo o Surdo como um sujeito bilingue e bicultural.
Em Construção
Links de interesse
Escola Virtual LGP : Curso online Língua Gestual Portuguesa.
Academia LGP : Conteúdos escolares em LGP